terça-feira, 23 de abril de 2024
segunda-feira, 22 de abril de 2024
Review: ⚡️ High On Fire - 'Cometh The Storm' (2024) ⚡️
Com cerca de vinte
e cinco anos de produtiva (e barulhenta) actividade, os titânicos High On
Fire continuam a dar mostras de uma vitalidade invejável. Despertado de um inédito
jejum discográfico de cinco anos, este pujante, indomável e electrizante tridente
californiano – sediado na cidade de Oakland e liderado pelo célebre Matt
Pike (Sleep) – acaba de detonar o seu novíssimo, infernal e
potentíssimo ‘Cometh The Storm’ através dos formatos LP, CD e digital
carimbados pela editora nova-iorquina MNRK Heavy. Resultante de um tenso, renhido e relampejante braço de ferro rivalizado entre um mastodôntico, intoxicante,
euforizante e ciclónico Stoner Metal que ocasionalmente se enlameia nos nimbosos
pântanos do Sludge Metal, e um poderoso, combativo, altivo e furioso Heavy
Metal de vertiginosa pedalada Punk, a eruptiva, escaldante, excitante
e agressiva sonoridade de ‘Cometh The Storm’ representa – com excepção
do fresco, bonanceiro e romanesco tema “Karanlik Yol” que se meneia numa
vistosa, relaxada e libidinosa dança de mística fragância turca, manifestando-se como que refrescante e revitalizante chuva neste argiloso e impiedoso deserto – uma destravada,
endiabrada e demolidora locomotiva que tudo varre à sua frente. São cinquenta e
oito minutos galopados na máxima rotação e electrificados a alta tensão que
colocam à prova a robustez dos alicerces da nossa sanidade mental. Um intenso lança-chamas
que nos inferniza, consome e carboniza sem qualquer misericórdia. Um impetuoso bulldozer
que nos persegue, atropela e esmaga repetidas vezes. Banhem-se nesta fogosa ferocidade
onde ruge uma voz felina de temperamento raivoso e tez corrosiva, rouquenha e
urticante, troveja uma monolítica guitarra de ventosos, gordurosos, opressivos,
e tormentosos riffs de onde ziguezagueiam apressados, lampejantes,
ácidos e trepidantes solos, bafeja pesadamente um baixo obeso de linhas quentes,
tensas, densas e sufocantes, e crepita uma enérgica bateria em polvorosa de
açoitadas retumbantes, explosivas, incisivas e fulminantes. A admirável ilustração
que confere rosto a este trevoso, sangrento, bolorento e furioso clamor aponta
os seus créditos ao inconfundível Arik Roper. Este é um álbum extremamente
vigoroso, aparatoso e contagiante – de efervescência vulcânica e liderança tirânica – que em nós causa um violento sismo
impossível de domar. Obedeçam ao chamamento dos troantes tambores de guerra, gritem selvaticamente
aos cerrados e carregados céus, desembainhem as vossas espadas sedentas e avancem,
decididos e destemidos, na direcção deste fervoroso e acintoso furacão que rodopia sem travão. Depois
de ter vivenciado “in loco” e pela primeiríssima vez toda a brutal e inextinguível potência de High On Fire na velha edição de 2018 do festival espanhol Kristonfest, avizinha-se
agora o nosso reencontro calendarizado para o verão português no reputado festival SonicBlast.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ MNRK Heavy
domingo, 21 de abril de 2024
sábado, 20 de abril de 2024
quinta-feira, 18 de abril de 2024
quarta-feira, 17 de abril de 2024
terça-feira, 16 de abril de 2024
Review: 🦋 Tom Penaguin - 'Tom Penaguin' (2024) 🦋
O talentoso e ambicioso multi-instrumentista francês Tom Penaguin (guitarrista de Djiin e organista em Orgöne) acaba de surpreender todos os verdadeiros apóstolos do Prog Rock e do Jazz Fusion com o lançamento do seu belíssimo álbum de estreia – gravado de forma analógica no seu estúdio caseiro – pela mão do selo discográfico espanhol Á MARXE nos formatos CD e digital. Sonhado, arquitectado e maturado durante vários anos, este primeiro passo discográfico a solo de Tom Penaguin representa – com admiráveis maestria e ousadia – muito daquilo que mais me apraz encontrar na música contemporânea: uma indiscreta influência clássica aliada a um cunho pessoal que lhe confere um indelével traço original. Pincelada, aromatizada e norteada por um melodioso, serpenteante, enleante e sumptuoso Prog Rock de ensolarada e colorida magia Canterbury’esca, e um cerebral, exótico, estético e sensacional Jazz Fusion de elegante estilo vintage, a ambiental, bucólica, onírica e orquestral sonoridade deste fenomenal registo – polida e encerada por edénicas, cénicas e deslumbrantes composições – persegue a messiânica luz de carismáticas e incontáveis referências colhidas nos anos 70 como Soft Machine, YES, King Crimson, National Health, Hatfield and the North, Caravan, Egg, Mahavishnu Orchestra, Brand X, Focus, Camel, Soft Heap, Pierre Moerlen’s Gong e Popol Vuh, assim como inala de pulmões bem abertos os frescos e revitalizantes ares noruegueses soprados por bandas da actualidade como Needlepoint, Soft Ffog, Wobbler e Jordsjø. Na sagrada constituição desta sedutora, majestosa e inspiradora obra, que vive do principesco detalhe, da graciosa subtileza e de uma desarmante beleza, dialogam entre si uma virtuosa guitarra – discípula de John McLaughlin, Allan Holdsworth, Jan Akkerman e John Abercrombie – que se centrifuga em exuberantes, hipnóticos e apaixonantes riffs e expurga num vendaval de esvoaçantes, angulosos e enfeitiçantes solos, um baixo elástico de reverberação ondulante, pulsante e baloiçada, uma bateria deliciosamente jazzística que se desdobra entre secos rufos na tarola, o toque preciso e cintilante nos pratos flamejantes, e galopantes acrobacias a trote dos timbalões, e toda uma quimérica profusão de sublimes teclados – aureolados por um misticismo fabular que nos abrilhanta o olhar de pirotecnia estelar – que tanto se amainam em embriagantes, sonhadoras e transcendentes passagens de uma encantadora lisergia, como rodopiam a toda a velocidade numa profunda espiral de magnéticos, sidéricos e estonteantes bailados. Tom Penaguin edifica no nosso imaginário todo um esverdeado, refrescante e arborizado tapete campesino, estriado por marulhantes riachos de águas translúcidas, sobrevoados por suaves brisas e vigiados de perto por vastos céus banhados de um forte azul turquesa, que se espreguiça e desdobra na longínqua e vertiginosa direcção de um Sol calmoso, profético e lustroso. Este é um álbum extraordinariamente radiante, cativante, divinal e glorioso, de afago mental e beatitude imortal, que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade emocional. Um catártico bálsamo de lívida brancura que nos inunda e cega de devota fascinação, e reconforta nos agradáveis braços da plena e deífica jubilação. Quando o derradeiro tema se entrega ao silêncio e este sonho soberbamente musicado nos permite finalmente pestanejar, damos por nós mergulhados num imperturbável e anestésico estádio mesmérico de onde não mais desejamos regressar. Satisfaçam nele todo o vosso desejo de requinte, e testemunhem toda a inesgotável majestosidade de um dos álbuns mais refinados do ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Á MARXE
➥ Bandcamp