quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Fuzz Manta - Vortex Memplex (2012)

Em 2009 comprava o meloso “Smokerings” dos dinamarqueses Fuzz Manta, persuadido pela requintada musicalidade com forte influência no Blues e no hard Rock setentista, mas também pelo ressurgimento vocal de Janis Joplin nas goelas de Lene. E se estava convencido com o disco de estreia, o 2º (“Opus II”) deixou em mim um sabor agridoce. E foi neste âmago da dualidade gustativa, que surgiu o mais recente disco da banda “Vortex Memplex” para me deixar de músculos faciais completamente anestesiados e de alma a divagar bem longe da minha presença corporal. É um disco soberbo com passagens verdadeiramente viajantes. O instrumental da banda está mais delirante que nunca, brindando-nos com verdadeiras odisseias pela ataraxia dos sentidos. A voz de Lene está mais aveludada que nunca, criando uma orgia com a guitarra, o baixo e a bateria. Depois de ouvir este disco, tenho a certeza de que somos seres espirituais a viver uma experiência humana e não seres humanos a viver uma experiência espiritual. É uma verdadeira terapia ventosa que serpenteia a alma e nos converte em peregrinos. Quanto a vocês não sei, mas quanto a mim: é o disco do ano (até ao presente). Uma prolongada vénia a Fuzz Manta. Nunca a Dinamarca foi tão quente.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Pearl Jam Twenty

Acabei de ver o magnífico documentário “Pearl Jam Twenty” e ainda não me recompus. O documentário ressuscitou velhas memórias de uma adolescência dedicada aos cinzentos céus de Seattle. Recordei uma fria noite de inverno em que um amigo (caixas) bateu à porta de minha casa. Trazia consigo um entusiasmo impaciente por me mostrar um tema (“Alive”) de uma banda (nossa desconhecida até ao momento) chamada Pearl Jam, que ouvira por mera casualidade. Tinha uns 16 anos e, desde então, dediquei grande parte do meu tempo a “molhar-me” debaixo dos céus do Grunge. Nessa altura, tinha uma banda de garagem. A paixão por Pearl Jam era tão pesada que tive de a levar comigo para os ensaios e conseguintes concertos que demos por Carrazeda de Ansiães. Encontrei na sonoridade de bandas como Pearl Jam, Alice in Chains e Screaming Trees, a personificação das manifestações da minha alma. Tinha ainda 17 anos, quando corri a Lisboa para ver os meus heróis ao vivo no Pavilhão Atlântico. Foi um concerto marcante, tão grandioso quanto a minha devota admiração pela banda. Regressei a casa com a voz do Eddie Vedder e os riffs do Stone Gossard bem presentes em mim. Depois de tanto tempo, foi com enorme nostalgia e lágrimas saudosistas que vi este testemunho deixado pelos eternos Pearl Jam. 


Espanholada!


domingo, 5 de agosto de 2012

Summer Breeze

Dial M for Murder (1954) de Alfred Hitchcock

Que Alfred Hitchcock tenta privar as testemunhas dos seus filmes de inalar oxigénio durante o desenrolar dos mesmos, já todos sabemos. Mas impedir que o espectador inspire o fruto da vida durante 105 minutos, chamar-lhe-ia de homicídio. Falo do seu esplendoroso “Dial M for Murder”, um thriller sobrecarregado de suspense que, seguramente, domina todo aquele que lhe dedicar atenção. Este belo exemplar da mais brilhante década que o cinema conheceu, os anos 50, narra o antes, o decorrer e o depois de um crime mal sucedido. Tudo começa com a notável persuasão de Tony Wendice para com o seu colega de faculdade, Charles Swann. Tony, um marido desconfortável pela clara traição da sua esposa Margot Wendice (com um talentoso escritor chamado Mark Halliday), arquitecta uma forma (e que forma!) de assassinar a Margot, recorrendo a Swann como o herói do seu crime - aparentemente – perfeito. Depois de muito bem estudado, o seu plano elevava-o ao apogeu da confiança. Mas nem só de um bom argumento se constrói um bom filme, e a noite do crime espelhou esta mesma teoria de forma perdulária. O assassino não consegue vestir a roupa da sua tarefa, e depressa se converte em assassinado pela esposa de Tony. Desde logo, Tony é forçado a improvisar uma retórica “salva-vidas” que o afaste do dedo indicador da justiça. Quando a azáfama policial parece ter acalmado, e a resolução do crime parece estar a germinar com muita dificuldade, eis que aparece a figura mais temível dos obreiros do crime: o inspector. De figura imponente e com uma interminável sede de descoberta no âmago do crime, o inspector Hubbard bate à porta da família Wendice. Quando a culpa parece calçar melhor em Margot e é consequentemente acusada de assassinato, Tony vê-se importunado pelo amante da sua esposa, que o tenta colocar no banco de réus em troca de Margot (usando exactamente o mesmo plano que Tony edificou). Num jogo onde a verdade se reveste de ficção e, simultaneamente, a ficção se reveste de verdade, é o inspector Hubbard quem decifra a verdadeira história e intenções por detrás daquele crime. Num investigar mais perspicaz, Hubbard dá voz a todos os elementos perversos que Tony julgava mudos.

Uma história estrondosa que envolve apenas cinco personagens com caracterizações soberbas e de estrutura bastante complexa. É o meu filme favorito do Hitchcock (o “Rear Window” que me perdoe), e um dos filmes que mais me cativa.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Buenos Aires 71'

Summoner - Phoenix (2012)


“Phoenix” dos norte americanos Summoner é uma perfeita infusão de Stoner, Psychedelic e Space Rock. Estes três elementos caminham de mãos dadas pelas estradas poeirentas do deserto de Mojave a uma velocidade alucinante. O Southern também chega a espreitar e quase a convencer o ouvinte de que está presente neste disco. Digo “quase”, porque quando os típicos riffs musculados e ofegantes (característicos do rock sulista) e a voz rouca e imperativa se elevam, a guitarra assume uma personalidade bipolar e ressurge com ritmos lentos e sobrecarregados de estupefacientes. De imediato, também o baixo e a bateria decidem comungar do mesmo cálice, e eis que acontece um big bang cósmico que nos faz delirar por completo a velocidade cruzeiro pelo infindável universo! E quando já deixamos de sentir a sensibilidade nos dedos dos pés, intervém novamente a voz e o ritmo mais acelerado com riffs duros que nem uma rocha, e batidas secas e decididas. De realçar, também, a petrificante dança da palheta nas mais graves cordas do baixo, que nos remete para uma ambiência “doomesca” em alguns troços do disco. É um disco de múltiplos sabores, mas muito saboroso à sua maneira.

Fatso Jetson @ Taberna de Belfast