Búfalo + Harsh Toke + Comet Control @ Transmissions Vol.I

Viana do Castelo entorpecia com tanta chuva. Deixámos o carro e num passo apressado afunilámo-nos pelas velhas ruas de Viana em direcção ao bar Kommix. Esperava-nos uma inolvidável noite musical. Das melhores que resistem na minha memória. A 1ª banda, Búfalo, seria uma estreia (em todas as direcções da palavra) para mim; Comet Control repartia em partes desiguais com Harsh Toke o porquê desta longa incursão até Viana do Castelo, e Harsh Toke eram os detentores desta superior fatia motivacional.

Búfalo
Começo por dizer que foi das performances mais assombrosas (no sentido elogioso da palavra) que assistira de uma banda portuguesa. Os seus riffs Sabbath’eanos não demoraram a invocar todos aqueles peregrinos musicais que ainda subsistiam o exterior do bar e a fazer deste mesmo um espaço demasiado pequeno para o que se avizinhava. Foi às costas de um Búfalo indomesticável que toda a plateia começou a oscilar, obedecendo dessa forma aos primeiros riffs de um Blues bocejante e endiabrado. Foi fácil e imediato responder às exalações psicotrópicas de duas guitarras uivantes, um baixo modorrento e uma bateria incansável na furiosa perseguição a todo o restante instrumental de velocidades contrastadas. Polegar levantado a este quarteto minhoto. Longa e gloriosa jornada a este Búfalo.

Harsh Toke
Foi deles o momento da noite. Nem foi preciso colocarem os jacks nas guitarras e ligarem os amplificadores para que todo o público se apercebesse que estaria prestes a assistir a um dos rituais mais hipnóticos e viajantes de sempre. Harsh Toke levaram-nos a experienciar emoções e lugares nunca antes visitados. Este quarteto Californiano arrancou para uma performance verdadeiramente estonteante e avassaladora. Uma avalanche decibélica que nos assolou sem qualquer aviso prévio. Foi indução imediata ao que de mais redentor existe no cosmos musical. Os quatro eremitas do Psych/Heavy Rock desprenderam toda uma euforia resplandecente na alma de quem neles comungou. Foi uma impressionante jam de orientação vertical e a uma velocidade que nenhum dos nossos sentidos conseguiu alcançar. A plateia respondia como podia perante toda esta descarga sónica de ares transcendentais. As duas guitarras abraçavam-se numa perfeita orgia de onde nasciam e pereciam os mais gritantes, siderais e alucinantes solos que uma guitarra pode criar. O baixo passeava-se de forma intensamente groove’sca e petrificante por toda a extensão dos temas, nunca perdendo de vista o riff base que se repetia infinitamente. A bateria pautava com forte sentido rítmico toda esta comoção prazerosa que se esperneava dos amplificadores até à nossa alma sedenta por testemunhar algo assim. No final, e como não poderia faltar, foi tocada a hipnotizante “Light Up and Live” que nos entorpeceu e levitou rumo à mais distante galáxia do infindável Cosmos.

Comet Control
Foi com a penetrante e melosa voz de Chad Ross (avé, Quest for Fire) e com o psicadelismo borbulhante e tranquilizante dos Comet Control que a noite se despediu. Sendo um incondicional fã da imortal banda canadiana Quest for Fire, não poderia perder a escassa oportunidade de assistir à deliciosa radiação expelida da guitarra de Andrew Moszynski e aos delirantes solos que lhes estão inerentes, bem como à já tão elogiada voz de Chad Ross. Comet Control serenou toda a ressaca vivaz que Harsh Toke deixara em nós e moldou a atmosfera à sua imagem. Foi música para se degustar de olhos cerrados e sorriso paralisado. Uma encantada e relaxante odisseia pelos trilhos do Psych Rock que nos deixara estagnados no tempo e espaço. 

Regressei de Viana do Castelo ainda de olhar incendiado pela satisfação em poder ter visto ao vivo músicos que há muito ansiava poder ver. Harsh Toke justificaram o porquê de serem uma das bandas que mais desejei assistir ao vivo desde que os conheci em 2012. Comet Control trouxe consigo as cinzas de Quest for Fire, e por isso não os poderia perder por nada. 

Agora venha o vol.II desta extasiante odisseia chamada "Transmissions"!